quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Construção do descrédito

Erra quem pensa que a imprensa é o quarto poder. Se fosse, Lula não teria sido reconduzido. Erra, de novo, quem pensou que as denúncias apuradas, detalhadamente, pela revista Veja, levariam o senador Renan Calheiros, do sempre governista PMDB, à cassação pelos seus pares. Em uma sessão fechada, com voto secreto, ficou fácil para seus pares ocultarem-se da democracia, escaparem à opinião pública, expiando sua decisão, na privacidade inaceitável para o poder público (onde não há privacidade pressuposta, por definição).

O que pensar da manutenção do desgastado senador? Há uma manobra em curso, há muitos anos, em especial da parte de correligionários do senhor presidente da República, de pedir o fechamento, a extinção, do Senado. Ouve-se-o de vereadores em uma capital como Porto Alegre; idem de deputados estaduais. Ouve-se-o de ex-parlamentares do partido da estrela vermelha (à Mao, à Stalin, à Castro). A manutenção do mui suspeito no mandato macula o Senado, descredenciando-o perante o povo (rico, pobre, classe média). Soma-se, estranhamente, paradoxalmente, assim, aos apelos pela extinção daquela casa. A câmara alta perde pontos junto ao povo. Quantos não vão pensar: Tem mais é que fechar esta .... !

E os petistas conseguem, salvando um aliado, promover sua antidemocrática causa que advoga pela extinção da casa senatorial. Parece estranho, mas não é.

Por que senadores iriam achincalhar a imagem de seus mandatos, salvando a pele de um colega, e presidente, cujos dúbios envolvimentos foram provados e comprovados? Aqueles que o salvaram prescindem do mandato de senador. Eles podem ser acomodados a qualquer momento em um órgão federal. Para eles, fechar o Senado ou não pouco mudará em suas vidas.

A obra perversa de desmerecer a câmara alta atingiu, neste capítulo triste, seu mais incisivo movimento, sua mais direta estocada no coração do alvo. Não duvideis de, nos próximos dias e semanas, pipocarem manifestações contra a existência do Senador, justamente da parte de aqueles que deveriam defender (é de sua boca para fora) a democracia.

Enfim, a notícia do Terra, das 17h33min.

O Plenário do Senado decidiu nesta quarta-feira pela absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por 40 votos a 35. Houve seis abstenções. Esta foi a primeira vez na história em que um presidente da Casa teve uma cassação avaliada em Plenário.
» Entenda as denúncias contra Calheiros» Opine sobre o caso
Calheiros enfrentou o processo por quebra de decoro parlamentar após uma representação do Psol, baseada em uma reportagem da revista Veja. O texto diz que o senador tinha contas pessoais, inclusive a pensão da filha com a jornalista Mônica Veloso, pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior.
Uma perícia da Polícia Federal mostrou que os documentos apresentados por Calheiros, "isoladamente", não comprovam que ele tinha recursos suficientes para fazer os pagamentos. O Conselho de Ética aprovou o relatório dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) com uma lista de oito argumentos contra Calheiros. Depois, o pedido foi encaminhado ao Plenário.
A sessão começou após empurrões entre o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) e um segurança. O início da reunião foi aberto ao público, mas, às 12h05, logo depois que o vice-presidente do Senado, senador Tião Viana (PT-AC), informou o motivo da sessão, o Plenário foi esvaziado e apenas senadores, a secretária-geral da mesa, Cláudia Lyra, um assessor dela, os advogados de defesa e acusação e 13 deputados que conseguiram autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) permaneceram no local. Mais tarde, Viana liberou o acesso de todos os deputados federais.
Viana chegou a reclamar, da tribuna do Plenário, que os senadores estavam vazando informações da sessão secreta a jornalistas. Ele pediu para que os parlamentares parassem de passar o conteúdo da sessão.
Enquanto a sessão era realizada, o advogado-geral do Senado entrou no STF com um mandado de segurança recorrendo da decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que autorizou a presença de 13 deputados na sessão secreta. O pedido foi negado pelo Supremo.